No conforto do lar, em frente à janela da sala de estar, em busca de concentração e do melhor ponto de rede de Internet, mas sob o olhar dos vizinhos do prédio em frente. Num espaço de coworking, num open space partilhado, a aproveitar as oportunidades de networking. Num quarto de hotel, reconvertido em paraíso laboral – com tudo a que tem direito – com vista para o mar, em sucessivas videoconferências com paragens distantes… Os cenários são infindáveis, e reais, contrastando com outros porventura menos idílicos, mas, no início, os seus protagonistas fizeram todos a mesma pergunta: afinal de contas, o que é teletrabalho?
A resposta tem um caminho curto mas contempla igualmente um mais longo, para quem prefere percorrer os contornos complexos e, aqui e ali, ainda algo incertos do trabalho à distância.
Teletrabalho, trabalho remoto ou trabalho à distância são sinónimos habitualmente utilizados para designar o mesmo conceito – que os falantes de língua inglesa apelidam de telecommuting, ou teleworking – e que são significado de uma relação laboral em que o funcionário desenvolve a sua atividade fora das paredes da instituição, normalmente por interposta tecnologia – com o computador à cabeça – e todo o aparato relacionado: telefone, correio eletrónico, programas de troca de mensagens online (chat), software de trabalho colaborativo, plataformas de videoconferência, e por aí além.
O que é teletrabalho? Prólogo de uma viagem sem regresso…
Habituámo-nos a ver o teletrabalho associado sobretudo a atividades como as vendas, o serviço de atendimento ao cliente, o marketing ou o mercado editorial, entre outros, contudo, a modalidade é cada vez mais empresarialmente transversal e o impacto da pandemia na realidade socioeconómica acelerou-a. Exponenciou-a, mesmo, por todo o mundo desenvolvido, fazendo com que milhões encarem a pergunta sobre “o que é o teletrabalho” apenas como um prólogo de uma viagem sem regresso.
Seja a full-time, ou, em alternativa, num modelo híbrido (mesclado com presenças semanais rotineiras nos escritórios da entidade patronal), o trabalho remoto possui vantagens e, claro está, desvantagens.
A flexibilidade laboral é um dos maiores benefícios. Permite ao trabalhador gerir como e onde exercer a sua profissão, e, assim, equilibrar os seus afazeres com as contingências da vida pessoal e familiar. E como há menos deslocações, isso significa mais tempo disponível…
Tempo é dinheiro e como tal a segunda vantagem poderá sentir-se na carteira para o funcionário em teletrabalho, principalmente se o empregador tiver a seu encargo as despesas com a rede de telecomunicações (telefone, Internet…) e, eventualmente, energia.
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Mas, aqui, a poupança beneficia igualmente o patronato. É que o trabalho remoto possibilita diminuir os custos fixos das empresas, designadamente os infraestruturais (instalações, equipamentos, energia, etc.). Mas não só.
Outra das vantagens que surge à cabeça de muitos inquéritos aos teletrabalhadores a tempo inteiro é a satisfação/motivação laboral. De uma forma geral, atestam variadíssimos estudos, os profissionais em trabalho remoto afirmam-se mais satisfeitos com a sua condição e motivação do que aqueles que funcionam nas repartições das empresas.
Para além disso, a estatística de muitos países tem demonstrado que o trabalho à distância faculta aos empregadores uma maior taxa de retenção de mão-de-obra, devido a várias regalias do trabalho em mobilidade.
Mas nem tudo são rosas pelo universo do telecommuting e quem se questiona sobre o que é teletrabalho, normalmente, deseja estar prevenido quanto a expectáveis desvantagens.
Todas as medalhas têm um reverso
A solidão, aquela que advém sobretudo quando o local de trabalho é em casa, é uma delas. Ela é ainda mais provável para quem vive sozinho e/ou não tem “anti-corpos” de combate a esta modalidade de trabalho.
Não falta, por isso, quem sinta necessidade de fazer uma separação entre o espaço pessoal e o espaço de trabalho, e procure fora de casa um local para desenvolver a atividade profissional. Neste domínio, as unidades de coworking continuam a ser uma opção de eleição – porque ser mais eficiente quando trabalhamos remotamente passou de mera opção para uma necessidade premente.
Ao lado da solidão convive, no entanto, enquanto provável handicap do teletrabalho, a existência de mais focos de distração, principalmente se o empregado não conseguir (ou não souber) reunir as condições necessárias para realizar as tarefas pelas quais está a ser pago.
Crianças em casa, animais domésticos, familiares ou visitantes recorrentes podem ser uma dor de cabeça para quem tem de se concentrar e apresentar resultados ao final do dia… Daí o crescimento muito relevante da oferta de espaços de coworking – de diferentes estilos – em inúmeras cidades.
Um dos acentos tónicos de estudos recentes, que se debruçam sobre o que é teletrabalho, suas contingências e exigências, sublinham a dificuldade dos trabalhadores em desligar.
Parece fácil, mas, diz quem sabe, à distância é mais difícil desligar do trabalho: telefonemas, videoconferências (quantas vezes com diferenças horárias muito relevantes entre países), e-mails sucessivos, respostas e decisões de que se estava à espera… tudo isto está a fazer com que se trabalhe mais… em teletrabalho. E essa está a ser uma das preocupações das áreas que estudam os métodos e organização do trabalho atual, a bem da saúde física e mental dos recursos humanos.
O menor controlo exercido pelas organizações junto dos teletrabalhadores, o decréscimo de criatividade na execução das tarefas adstritas, bem como a perda de identidade e a dificuldade de uma estabilidade na construção da carreira – costumam ser outras das desvantagens apontadas ao trabalho remoto.
O que é teletrabalho: mais do que uma resposta a uma nova crise
Na História, momentos de crise sempre trouxeram grandes mudanças e incertezas, e, consequentemente, grandes avanços e não menores oportunidades. E isso é verdade igualmente com o teletrabalho.
O termo irrompeu na década de 70 do século XX, quando o globo enfrentava uma crise no petróleo. As preocupações com os gastos de deslocação para o trabalho subiram de tom, pelo que, como resposta, determinadas funções profissionais transitaram então para o domicílio.
Ironia do destino, ou não, a pandemia provocada pelo Covid-19, em 2019-20, acelerou a transformação digital em todos os setores de atividade, com o teletrabalho como pivot (e resguardo) da mudança, a bem da economia.
No seguimento, alguns questionam sobre o que é teletrabalho se não uma renovada resposta (com outro formato, é certo) a uma nova crise, de outro calibre? Mas é mais do que isso.
Seja como for, e não obstante a velocidade histórica desta mudança, que era já tendência, o momento voltou a desbloquear novas oportunidades. E está a fazer com que o tecido empresarial analise com muito cuidado, passo a passo, a melhor forma de dar a volta por cima, como se costuma dizer.
As grandes consultoras especializadas em capital humano estão, concomitantemente – e ao mesmo tempo que muitos países pensam em novos preceitos legais para novos tempos e exigências -, a criar fórmulas para fazer face aos novos contornos do teletrabalho.
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A multinacional de recursos humanos Mercer, por exemplo, está a olhar para o novo enquadramento laboral e a sublinhar a necessidade de dividir o novo tempo de (tele)trabalho em quatro momentos fundamentais.
A saber: uma ocasião mais corporativa, em que a gestão de topo comunica para que todos saibam a condição da empresa; um momento de índole mais operacional, quando são definidas as prioridades para as cinco ou seis horas que trabalham diariamente, dado que é impossível as pessoas estarem a trabalhar oito horas quando têm, por exemplo, filhos em casa; uma altura de caráter, digamos, pedagógica, pois que nem todos os colaboradores empresariais estavam habituados a trabalhar assim, daí a necessidade em ajudar as pessoas com workshops ou coaching, para definirem agenda; e, por último, um tempo de socialização, com as equipas operacionais a fazerem pausas para tomar café, descomprimirem e falarem sobre o que está para além do trabalho. E que também as liga e sintoniza.
Uma experiência positiva e otimismo no futuro
2020 foi um ano complicado para a empresas e para os profissionais de recursos humanos. Não porque tiveram de dar muitas respostas à pergunta sobre o que é teletrabalho, mas porque tiveram de criar novas políticas de trabalho remoto, aprimorar plataformas e implementar ferramentas informáticas para manter a comunicação com os trabalhadores, e, na decorrência, acompanhar o correspondente desempenho, à distância.
Os anos de transição que temos pela frente não serão menos fáceis. Mas os indicadores que existem possibilitam encarar o futuro com otimismo.
Em variadíssimas paragens, resultados de inquéritos levados a efeito por peritos do setor demonstraram haver uma insatisfação muito baixa com a condição de teletrabalho, sendo que, em muitos casos, o universo sobre os quais incidiram os estudos era composto por um mix de pessoas que conheceram a situação de teletrabalho pela primeira vez e outras para quem a modalidade já era conhecida na prática.
Em Portugal, por exemplo, vários inquéritos apontam que mais de três quartos dos teletrabalhadores querem manter tal condição no futuro. A modalidade mais preferida, porém, é a que permite ter uma semana de trabalho mista, repartida pelo teletrabalho (na maioria dos dias) e pelo funcionamento presencial na empresa.
Não obstante a grande satisfação pela experiência em trabalho remoto (em percentagens que chegam a ultrapassar os 70 por cento), as preocupações demonstraram ser generalizadamente semelhantes: visibilidade interna do trabalho realizado, dúvidas sobre a progressão na carreira, gestão do stress e ansiedade, trabalho a mais (em horas efetivas), perdas no sentimento de união, pertença e comunicação, e dificuldades no trabalho em equipa.
Os desafios futuros são transversais a muitos setores de atividades e passam pelos conceitos de reskilling e upskilling. Ou seja, como a pandemia acelerou a digitalização de processos, é premente acompanhar a automação através de investimentos na literacia digital dos profissionais, na formação e upgrade tecnológico dos profissionais – ao encontro das oportunidades evidenciadas pela mudança, as quais preveem, inclusivamente, a criação de novas funções laborais (derivadas dos requisitos de inovação e de ciberssegurança, por exemplo).
Novos estilos de trabalho em perspetiva
Sintomas de tudo isto, e resposta às dúvidas sobre o que é teletrabalho, são os designados novos estilos de laboração que, mediante as configurações das experiências em curso, os profissionais manifestam pretender ver mantidos no futuro. Entre eles estão não só o trabalho remoto, como também o horário flexível e as medidas promotoras de bem-estar dentro das empresas.
Daí que, resultante das práticas de trabalho exercidas um pouco por todo o planeta, atestam vários inquéritos realizados, os colaboradores manifestem, de uma forma generalizada, pretender ver mantidas a longo-prazo a manutenção do teletrabalho (em diferentes configurações), o horário flexível, o uso otimizado de tecnologia, as aplicações e ferramentas informáticas de trabalho remoto e produtividade, as práticas de bem-estar profissional, a maior colaboração interdepartamental e o estabelecimento de prazos mais realistas de conclusão de tarefas.
As empresas, por seu turno, extraíram também desta fase de transição algumas práticas que gostariam de ver mantidas para os tempos vindouros. E entre elas estão um maior investimento em tecnologia, o incremento da formação profissional adaptada ao teletrabalho, a redução e/ou reconfiguração do espaço do físico das instalações e a adoção de iniciativas promotoras da saúde mental em contexto laboral.
Segundo o que tem sido possível observar, são residuais as empresas que não irão realizar qualquer tipo de mudança. E, seguramente, essas não terão quaisquer dúvidas sobre o que é teletrabalho…
O que é teletrabalho: a importância da comunicação
Num momento em que o trabalho à distância se transforma num novo normal, ganhou particular importância a comunicação entre todos os colaboradores e, para a sua efetivação e eficiência, o apoio de software de produtividade, de que o Teams, o Slack ou o Trello constituem apenas meros exemplos.
De forma semelhante, os departamentos de recursos humanos tiveram (e têm, se ainda não o fizeram) de munir-se de ferramentas capazes de, também remotamente, acompanhar o ciclo de trabalho dos colaboradores, para que seja possível aceder, em tempo real, aos dados que permitem decidir fundamentadamente sobre os respetivos percursos profissionais e produtividade.
Mas a mudança nas condições de (tele)trabalho poderá até ter consequências benéficas a outros níveis.
Segundo o estudo «Getting a balance in the life satisfaction determinants of full-time and part-time European workers», publicado no Journal of Economic Analysis and Policy, que avaliou o bem-estar dos trabalhadores europeus (com baixo índice de fecundidade, motivado também pelas condições e perspetivas laborais) a tempo inteiro e a tempo parcial, uma das consequências será, por exemplo, aumentar o número de filhos que cada família decide ter.
Segundo os autores do trabalho, estaremos assim perante uma mudança de paradigma provocada pela… massificação do teletrabalho.
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