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Investimento Estrangeiro em Moçambique

Fazer negócios em Moçambique é, hoje, uma combinação entre resiliência, leitura de risco e capacidade de adaptação. O ambiente empresarial local, e o investimento estrangeiro em Moçambique, continua a ser marcado por desafios logísticos, um mercado de crédito restrito, burocracia complexa e um sistema institucional ainda em consolidação. Por outro lado, as infraestruturas estão gradualmente a melhorar, a classe média urbana está a crescer e há sinais de diversificação em sectores como energia, agroindústria, logística, digitalização e construção.

Quem empreende no país sabe que as oportunidades existem, mas é preciso navegar entre limitações estruturais e oscilações de confiança. E é neste cenário que o Investimento Directo Estrangeiro (IDE) desempenha um papel decisivo. O IDE não funciona apenas como um influxo de capital estrangeiro, mas sobretudo como um catalisador que pode acelerar projectos, alargar cadeias de fornecimento e introduzir novas tecnologias e competências no mercado local.

Quando olhamos para os actuais níveis de IDE, percebemos que Moçambique continua a ser um destino relevante no continente africano. Em 2023, o país foi o sexto maior receptor de IDE em África, com entradas estimadas em 2,5 mil milhões de dólares norte-americanos, um sinal claro de que, apesar dos riscos, os grandes investidores continuam a notar um valor estratégico no mercado moçambicano.

Mas o que está realmente a mover estes investimentos? E mais importante: como é que os empresários, gestores e empreendedores locais podem posicionar-se para tirar proveito desta dinâmica?

No caso particular de Moçambique, a resposta está principalmente na confiança que os investidores colocam nas vastas reservas naturais, no potencial energético do país e na expectativa de elevados retornos em sectores estratégicos como o gás natural, o carvão, a energia eléctrica e a logística portuária. O investimento estrangeiro tem sido fortemente impulsionado por megaprojectos como a exploração da bacia do Rovuma, onde se destaca o Coral Sul FLNG, o primeiro projecto flutuante de gás natural liquefeito em águas profundas de África, bem como os desenvolvimentos liderados pela TotalEnergies e pela ExxonMobil, actualmente em fase de preparação para retoma.

Além do sector energético, o interesse estrangeiro também se manifesta em corredores logísticos como Nacala e Beira, que oferecem acesso estratégico aos mercados regionais, e no potencial hidroeléctrico de projectos como Mphanda Nkuwa, apontado como um dos maiores investimentos futuros em geração de energia para exportação. Estes elementos reforçam a percepção de Moçambique como um destino relevante para o capital internacional, apesar dos desafios institucionais e de segurança que ainda precisam ser superados.

Quanto Investimento estrangeiro em Moçambique já foi contabilizado?

Entre 2002 e 2022, Moçambique acumulou mais de 40 mil milhões de dólares em IDE, com picos significativos entre 2012 e 2013. Cerca de 70% deste investimento concentrou-se no sector de recursos minerais, especialmente no gás natural, carvão e petróleo. Com a retoma prevista dos grandes projectos na bacia do Rovuma, estima-se que o IDE possa ultrapassar os 50 mil milhões de dólares nos próximos anos.

Embora o sector extractivo seja ainda dominante, há uma diversificação em curso. Sectores como agronegócio, energias renováveis, logística, telecomunicações, turismo e indústria transformadora estão a atrair cada vez mais interesse, impulsionados por factores como o crescimento das cidades, melhorias nas infraestruturas e o aumento da procura interna e regional. Esta diversificação é essencial para reduzir a vulnerabilidade às flutuações do mercado internacional de commodities.

Além dos grandes investimentos, há espaço promissor para pequenos e médios empresários. Cadeias de valor pouco exploradas como agricultura comercial, piscicultura, produção alimentar, materiais de construção e digitalização de serviços estão a ganhar força. Instrumentos legais como as zonas económicas especiais (ZEE) e parques industriais, como Beluluane, oferecem incentivos fiscais e aduaneiros que podem viabilizar negócios e atrair investidores mais ágeis e inovadores.

Como Funciona o Quadro Legal para Questões de IDE?

O quadro jurídico que regula o IDE é relativamente estável e baseado na Lei de Investimentos e no respectivo regulamento. Estas normas garantem protecção contra expropriações sem compensação, permitem a repatriação de lucros e proporcionam incentivos fiscais como isenções de IVA e redução do IRPC.

Mas, apesar da base legal ser sólida, os investidores ainda enfrentam obstáculos como burocracia, instabilidade fiscal, riscos jurídicos, falta de infraestruturas e escassez de mão-de-obra qualificada. Além disso, a insegurança persistente no norte do país continua a afectar a confiança.

Como é que os Empresários Locais Podem Beneficiar do IDE?

O IDE pode abrir múltiplas oportunidades para empresários, empreendedores e homens de negócio moçambicanos. Ao integrar-se nas cadeias de fornecimento criadas por investidores estrangeiros, os empresários locais podem fornecer bens e serviços essenciais, desde alimentação, transporte e construção até consultoria, segurança e tecnologias de informação.

Empresas moçambicanas podem também formar joint ventures com investidores estrangeiros, beneficiando-se da transferência de tecnologia, de boas práticas de gestão e de acesso a mercados internacionais. Outro benefício importante está no desenvolvimento de polos industriais e zonas económicas especiais, onde empresários locais podem instalar-se com condições fiscais vantajosas, acesso facilitado a energia e proximidade a grandes clientes internacionais.

Além disso, o IDE pode impulsionar o desenvolvimento de sectores conexos, como formação técnica e serviços financeiros especializados, criando um ecossistema mais robusto para o crescimento de pequenas e médias empresas.

Ao criar um ambiente favorável ao investimento produtivo e inclusivo, Moçambique poderá transformar-se num exemplo de como o capital estrangeiro pode coexistir com o crescimento sustentável e a prosperidade partilhada.